Herdei o verso dos bêbados... Pari o verso dos párias matei o verso da cátedra, e na Catedral, das Cinzas renasci...
29.12.10
21.12.10
1.12.10
Rosa cálida
Maia
o gesto me deste
é o mesmo com que se despe
ou veste
a lucidêz
revela
"Rosa é uma rosa
Rosa é um nome de mulher"
mas não apenas uma
aquela
rosa cálida
morena rosa
vem que eu quero ver você de perto
o meu samba é de rua
o meu verso é incerto
mas o destino, por certo
brincou comigo
mulher, anjo e flor
então eu resoluto
aceito o trato
a travessura que farei
com você em meu quarto.
16.11.10
O diabo mora nos detalhes
Maia
Onde se refugia o meu viço,
o meu brilho de poeta,
que partiu atrás de uma história completa,
de festas, folias de folguedos?
Onde refulge meu orgulho
o mais sórdido dos medos,
o mais sombrio dos segredos,
a audácia, a vilania, a picardia?
Tudo ficou para trás
assim que eu pilhei a vida vazia
assim que me senti liberto...
aproveitei cada segundo
para alimentar meu coração desperto
para trazer para perto
tudo vão que me faltava
para desarmar os corações vizinhos
para não estar sozinho
noite adentro nas madrugadas
e preencher o meu roteiro
com tramas, contextos
e cenas nunca filmadas
uma coleção de melhores momentos
dos próximos capítulos
meticulosamente planejado,
arranjado, enredado...
só esqueci do título.
25.10.10
SERVIÇO DE MALAQUIAS
(nem sempre tão sensível)
Maia
Eu tentava parecer indiferente,
Você tentava parecer descontraída.
Eu tentava parecer relaxado,
Você tentava parecer segura .
Assim passava a tarde
e nada
de um olho no olho
de literatura rodriguiana
Você tentava parecer interessada,
eu tentava parecer interessante.
Você tentava disfarçar os poucos anos,
eu tentava não parecer tão velho.
Assim passava a tarde
e nada
de um dente por dente,
um tete a tete, sem bandeiras.
Eu tentava não parecer “tão sensível”,
você tentava não parecer frustrada.
Eu tentava não medir esforços,
você tentava não pedir reforços.
Assim passava a tarde
e nada dos nossos negócios,
dos nossos assuntos.
Teoria e teoremas
a serem testados juntos.
Análises morfossintáticas
sem regras de gramática...
ou pragmáticas
convenções sociais.
Eu tentava parecer maduro,
você tentava parecer aquela menina.
Eu tentava não parecer tão cansado,
você tentava não mostrar tua tristeza!
(“a minha tristeza também!” Berrou Bandeira)
A tristeza dos poetas...
do tempo que nunca passava.
A tarde esfriava e a cabeça fervia.
a febre que não ardia
mal consumia os egos incautos.
verdade que nos faltava,
não planejava, mas me ocorria...
saber se você toparia, quem sabe um dia
conversar no meu quarto?
13.10.10
7.10.10
Saguão do aeroporto
(próxima Partida)
Maia
Que do amar senão o beijo?
Que peso tem o pejo da existência?
Quando a dor se vai,
ou mesmo quando é imensa...
é apenas fruto do apego
do medo
da mesma madrugada fria...
algoz de tua mente.
A bagagem te espera na esteira
e no mundo te espera o julgamento
sem clarividência,
sem o menor dos presságios
pago o ágio cobrado
por cada uma das escolhas.
Partes inexorável...
sem destino certo,
sem certezas...
a duvida sempre será tua companheira
por cada caminho novo,
a cada decisão,
em cada céu de brigadeiro
onde voas
e não podes te quedar insatisfeito.
Te assombra a solidão,
cada erro
ou mal
que julgas haver cometido.
Não resta outra opção,
senão escolher outro destino
e partir no desatino, no desespero,
para outro voo torto de morcego.
11.9.10
Desassossego
Maia
Talvez o monstro não lhe seja assim tão feio
ou perigoso, conforme se pintaria...
talvez a vida não prossiga tão vazia
como dantes havia pensado
pois cada ciclo
põe mais versos nesse fado
e cada passo que é dado
cada caminho em que enveredo
é uma ave maria
nas contas do nosso rosário
do nosso credo
cada grito de orgasmo
cada soluço de medo
a cada momento propicio
desaba num precipício
a sobra do nosso segredo
a sombra do nosso vício
a força desse feitiço
o véu postiço
que lhe encobre os olhos
a hora dessas escolhas
de cara...
de frente pro crime
Nenhuma Eternidade
(Unveiled Isis)
Maia
Ainda seja cedo, por mais tarde que pareça,
quando se revelar a verdade
e todos os mistérios esclarecidos caiam
como incertos futuros do pretérito,
ou míseros fatos do passado.
Seja assim como uma benção,
uma unção da derradeira liberdade:
estarão os olhos da humanidade abertos,
o inconsciente coletivo finalmente acordado
e o espirito não será mais obra do imaginário.
Esteja viva, flamejante, ardente,
a luz divina que lhe saltar aos olhos.
O novo ciclo lhe venha doce... plácido,
me venha, então, pleno... mágico
e os destinos todos se cruzarão no espaço
em novos os lares, os sonhos reformados,
imóveis pré-moldados adquiridos à prestação
e meu lugar no bonde da ilusão foi ocupado...
Mas esteja o meu caminho
um tanto acidentado, sombrio, sozinho,
e a solidão seja apenas uma pista...
que toda dor deve ser paga a vista
e o irmão, logo ao lado, também é solitário.
Seja decretado o fim dessa agonia
e minha estrada fria, a vida, não termine nesse rio.
Do pilar desse vazio se erguerá a ponte
e em júbilo há de acudir o povo...
aos borbotões, eufóricos, embriagados,
a festejar o regresso do filho pródigo.
Seja fundamental o teor dessa sentença,
que nenhuma dor, descrença, apatia ou feitiço
e, sobretudo, nenhuma eternidade
tenha a capacidade de impedir o crescimento
ou mesmo calar a alma
27.7.10
(Ânima)
Maia
O bem e o mal residem em nós,
seus conflitos provocam medo,
mas no degredo se constata:
A alma mesmo calada...
é uma voz.
Se a mudez for desespero,
se o novelo com que me embaraço
não tiver mais fio da meada,
ainda assim a alma é uma voz.
Mesmo que o tempo conspire
e todos à volta pareçam tão firmes,
intactos, inabaláveis.
Mesmo que a correnteza me arraste,
o vento carregue a bruma
e revele a forma do meu algoz...
É fato
que nada muda...
A alma mesmo calada
continua sendo uma voz.
14.7.10
(o jogo só termina quando acaba)
Maia
Mamãe, quero ser um punk
um rapper, um raper, um poser...
fingir a perfeição do requiem do anjo Mozart,
ou a plástica dos gols do zagueiro Mozer...
Sair bem na foto!
Quero só mais uma dose.
Depressa!... Tranga-me doze,
cada uma de uma cor.
O remédio para passar a dor
foi a compaixão da pessoa errada...
Dieta macrobiótica,
de ervas envenenadas
por beijos da namorada,
bastou para me livrar do peso.
Surpresa, quase fui preso...
Meu falo saiu ileso,
meu felling, quase intacto....
Batida de alto impacto,
cachaça, mel e limão,
selou esse novo pacto.
Novo contrato
firmando o ato
de um sujeito abstrato,
sujeito a pagar o pato
e comer o pão...
Mamãe me dê um irmão
que possa assumir a culpa.
Eu quero fugir pra Cuba,
fazer suruba,
comer jujuba,
tosar a juba,
fazer uma plástica
e ir pra ginástica na acadêmia.
Curar minha anemia,
carpir o dia
e morrer como morreu Saramago...
Os olhos fitos no teto num gesto vago,
a lamber sabão e arrotar bolhas de espuma.
(Gosto não se discute)
Maia
Eu gosto de ver as pessoas andando na rua,
de observar a pressa do mundo
e não fazer parte dela.
Gosto de ver as coisas sendo...
Gosto de ver o tempo escorrendo lento
na velocidade do pensamento vivo.
Eu gosto de ver o dia nascer.
Gosto de vê-lo morrer nas madrugadas.
De dormir entre uma coisa e outra.
Gosto da noite,
dos anjos e demônios que a habitam,
"la petit mort" morte em seu leito.
Eu gosto enfim da perfeita harmonia
do final feliz no fim da estória,
repleto de glórias, odes e luzes
e dos créditos que sobem ligeiros.
9.7.10
(com o perdão de Fíodor)
Uma nuvem me segue
da boca do rio ao centro.
Com a janela fechada vejo a nuvem
mas não sinto o vento,
nem encontro o alento
de nova direção
O mundo também é o não
quando o talvez impera na vida...
Lambida de cão cura a ferida...
Mas meu gato e meu presente me arranham
Um pesadelo me desperta
quase toda madrugada
pelas janelas fechadas
vejo a luz da manhã
que não ilumina meus olhos...
Falta de um novo projeto
e a água escorre pelo teto,
pela alma e pelos canos
as dores se acumulam com os anos
e o doente está desenganado
Um grito me escapa,
quase espontaneamente,
todo dia...
Mas com a janela fechada
o som não sai
e me explode nos tímpanos.
A falta de melhor Juízo no tribunal da Bahia
paralisa os sentidos embotados pela apatia.
Com a falência do movimento sindical...
Deus é o Pleno!
Não deveria ser tão cruel...
E a coisa não poderia estar tão mal,
no Haiti,
para alguém se matar quando o Brasil perde uma copa...
24.6.10
Maia
três vezes dita a verdade
firma-se no inconsciente coletivo
na totalidade
um novo paradigma
sábios em vão
tentarão decifrar o enigma
dessa existência dúbia
de troglodita e poeta
ser do mundo
e não ser arroz de festa
estar ao largo
sorver a cor da tarde
e o sabor do amargo
sem uma lágrima
num só trago
solitário com um naufrago
cercado por pilhas de gente
ofuscado pelo lusco fusco
da luz difusa do Sol poente
a bússola já não mostra a direção correta
o caminho é confuso
ainda em linha reta
a subida é certa
a alma
aberta
desperta para o sutil
como um elefante numa loja de cristais
7.6.10
Maia
Noites em contradição
rotinas sem nexo
migalhas de satisfação
em forma de sexo
o giro da roda
desgovernada
seguindo o passo
do coração.
O descompasso
é a compensação
por tanta espera.
Noites de pura ilusão
de puro tédio
esmolas de compreensão
migalhas de sexo
o moto-contínuo
o dia a dia
e toda madrugada
a mesma sensação
de estar vazia
a alma.
23.5.10
Maia
desfaleço
como quem morre a cada sábado
a cada ciclo da lua
como fenece o desejo
trancado a sete chaves
entre quatro paredes
desfaleço
como quem morre em cada madrugada
em cada hora vazia de insônia
como desmaia o desejo
roto, esmaecido,
de cansaço e tédio
é sempre tarde quando acordo
no susto
é sempre tarde quando a verdade
assusta
é sempre tarde para lamentar
cerras-te os olhos e as travas
da porta
a Nau que veio a soçobrar
sem porto
parte sem rota nova vislumbrar
desfaleço
como quem morre a cada evento
de caos desse universo intenso
para renascer em dado momento
mais propício a novos olhares
livres de velhos ressentimentos
19.5.10
Feira de importados
Maia
momentos de pouca satisfação
Teus dedos ficaram marcados
buscando tatear a solução
perdida numa feira de importados
opõem-se a minhas manhãs frias
um número sem conta de pecados
cobrados pela cifra do teu dia
perdida numa feira de importados
deviam importar nova razão
ou alguma emoção menos vazia
protegida do inimigo logo ao lado
devias consultar teu coração
para evitar uma saudade tão tardia
perdida numa feira de importados
2.5.10
(Você quer parar o tempo... o tempo não tem parada - A. Valença)
Maia
Hoje o dia não nasceu.
O Sol não me aqueceu.
A comida não desceu.
O dia não teve graça...
Não teve gosto no som.
A harmonia mudou de tom.
O ritmo não ficou bom.
O samba mudou de praça...
Hoje o gato me arranhou.
A espera não acabou.
A tarde me pirraçou,
fingindo que o tempo passa...
Fugiu outra vez a musa,
por trajetória obtusa,
quadrado da Hipotenusa
na razão direta das massas.
29.4.10
Maia
Coloco essa dor pra fora
sem demora para me aprumar.
Um mar engoliu o meu rio
e o estio causou essa enchente.
Tem gente batendo janela,
aquela que esqueci fechada,
onde o nada perturba o meu sono...
Um abandono que deixou meu peito mudo.
Nenhum veludo amacia,
sacia, deixa confortável a cama...
Inflama trás aconchego, conforto
a um morto que retorna à história.
A vitória já é sonho distante,
amante de não sei qual nobre
de pobres expectativas
cativas de duras correntes.
Presente de fatos passados,
marcados por mal entendidos.
gemidos de velhos amigos,
castigo do meu carrasco.
"Nos cascos! Desperta agora!'
Impera a vida lá fora.
"Manda embora essa megera
e não espera acontecer".
"Vai nascer para uma nova consciência!
Paciência, vai ter um filho,
um trilho, uma direção...
Uma canção no fim desse inverno".
11.4.10
C...
(mocinhas não falam palavrão)
Maia
Pai, filho
e espírito
ungida é a comunhão
o pai é a harmonia
o filho é a melodia
o espírito comanda o ritmo
Música é a transcendência
são três aspectos unitários
nenhum de maior valença
são três unificados
pagos os pecados
paga a cadência
Como o beijo denso de Calíope
a poesia é a propria vertigem...
é míope
ou sofre de labirintite
o poeta é esquisofrênico
o freguês é tirâno
e entra ano e sai ano
fica mais exigente
quer o sangue da gente
quer que se foda
a Música é um resultado
incerto de loteria
satisfação, ilusão egolatria
são três aspectos unitários
nenhum de maior valença
8.4.10
Outrol cão andaluz
Maia
Me faltam as texturas de Dalí
Mas amo a luz refletida em olhos claros
amo as formas
diáfanas
sob o tecido fino da manhã Andaluzia
Me faltam as cores de Miró
mas amo o inominado
que vejo nas janelas
que levam para o interior de Andaluzia
Me faltam as gravuras de PIcasso
mas reflito minha mãe
meu pai,
meus antepassados
minha raiz...
de alentejano
lanço os pés sobre Andaluzia
6.4.10
Maia
pouco importa quem parta
ou mesmo quem fique
alheio ao barco naufragado,
quimeras que foram a pique
sondo no espaço imenso
o rosto do Ser eterno
para me despertar
deste meu inferno
explosões de supernovas
por todos os cantos do universo
dos medos encadeados
que emudeceram meu verso
eu luto em outras trincheiras
em terras cinzas de verde pasto
quero mais sossego
a meus olhos gastos.
26.3.10
23.3.10
Maia
Que é do mundo senão novas fronteiras?
Que é da vida senão novos encontros?
Que são as dores senão passagens?
E a tais imagens somem-se os desatinos
As noites frias de insônia extrema
A solidão, a forca, a pena
E o ocaso de antigos abandonos
Lanço-me ao mundo como um cão sem dono
Um vira lata a abanar a calda
Festejando o ar da rua
Festejando essa mulher nua...
Que aparece qual esrtela brilhante
Em cama estranha
Festejando a liberdade no meu quarto de hotel
Celebrando novas avenidas
Novos parques
Novo céu...
E o alumbramento que o desconhecido provoca