24.12.07

Coletivos
Rubem Garcia – O Coringa

Veio uma noite perene me causar espanto…
Só no meu canto me encontrou a outra…
Vinda de - não sei - qual recanto do universo?
Veio uma aguda dor nas tripas,
Outro verso, escorrendo das entranhas.
Veio quem deveria,
Quem não viria,
Quem não queria
O que não tivesse…
Hordas de hunos,
Corja de bandidos,
Súcias de malungos,
Cambadas de moribundos,
Vieram das quatro direções…
Novos sacerdotes,
Noves sermões para sustentar as velhas crenças.
Novos milagres da ciência,
Soja transgênica,
Pílula de ar, e silicone…
Veio o olho por olho,
Homem por homem.
Medo por medo,
Preferi ficar com o desconhecido.
Veio quem mais qualquer um desejaria,
Ainda que se lhe dessem permissão…
De saciar o desejo numa fonte
Inexaurível, fecunda, abundante…

22.11.07

Samba Reggae Dub DUb DUB...

Rubem Garcia - O coringa

(pra Zangüera)


Reza Braba para Espantar os Quebrantos,

os Mal-olhados,

os desencantos...

Batuque pra mexer a massa,

Pra realçar o verde dos olhos da Mulata,

Balançar na pista, Pra Sambar Na lata...

Pra Salvar os Orixás,

Na Bahia de todos os Bons, todos os maus, todos os santos…

19.9.07

Abalo Sísmico

Rubem Garcia - O Coringa

Triste estou

Nesse estado...

Em que um hiato seu

Revoga meu passado

Em uníssono

Num mesmo lado

vogam as idéias.

Triste tenho estado,

Numa voracidade estranha,

Em busca de um vocábulo.

Um incunábulo…

Abalo sísmico num átomo

Estacionado

Insiste um arremedo

E medo de algum resquício

Com requintes…

Espasmos que ressuscitem

Ou suscitem

Na conjuntura nova perspectiva

Na conjuntiva lente do nosso mundo.

30.8.07

Ergo Cogito Cogito

Rubem Garcia – O Coringa

As ruas ficam estreitas...

As frases desfeitas...

As vozes veladas,

As portas seladas,

correspondência violada...

Outra página virada

numa varanda distante...

Janela de antiga amante.

Efêmero quociente - mero inconsciente

coletivo...

Janelas abertas - a vida ao vivo...

as Ruas ficam desertas...

sunt?

logo cogito...

20.8.07

Argos

Rubem Garcia – O Coringa


Sou o mar que me Navega...

sou a fonte... sou a tela...

sou a onda que vaga... cega...

sou comadre na janela,

um requebro de Nêga,

Um Paulinho da Portela...


Meu leme virou história

Mesmo que me cure a bebedeira,

Será minha a fortuna simplória,

Um barraco sem eira nem beira.

É meu lema coberto de glória...

"Bobagem pouca é besteira..."!

3.8.07

Onde vazou frio no aquecimento

Rubem-Garcia – O coringa

Reserva de mata é morte lenta.

Calor Humano destrói o planeta.

Ensinando-nos o consumismo sustentável

a mídia se isenta...

Não importa a data,

Não importa a culpa…

Mesmo que haja cura,

A vontade é falha,

e próprio do homem

discutir migalhas,

em pontos minúsculos

Se perderem todos os esforços,

Os danos são nossos,

Santos e profetas,

Postos ao alcance,

Na melhor oferta.

A reserva de mata é mesquinha,

Não é escolha alguma.

Sombra de peneira

a enganar os tolos,

e ensinar aos filhos

a maneira certa de perpetuar a espécie.

4.7.07

Outra “cabriolet” cartorária

Rubem Garcia – O Coringa

Tudo o que sei cheira a mofo

Ou de certo modo é velho

Sobras de idéias esmaecidas

Puídas gastas de tão repetidas

Tudo que mofa mal cheira pede socorro

Apela para a velha arapuca

Arranca peruca

cego em sinuca

Tudo cheira mofo velho

Tudo cheira mal Socorro

Tudo quanto me repetes

Tantos os repentes meus em tela

Já me parecem meio insulsos

A mesma paródia descarada

De um vândalo a cata de algo novo

Mas a mesma língua O dia a dia

Não sustentam o ofício

A poesia

Sem embebedar da madre fonte

Que a engendrou no seio inerme

Morre no contexto

Morre na verve em suave sinfonia

Tudo me parece engodo

ÔNU “pax” diplomacia

ONG Mãe África

I - Ching “housewives”

A Cada reprise nervosa a cada fim de ano

Cada dano

A Cada desengano Tiros na África,

em Timor Em Amaralina

Por puro desprezo ou desespero

Assisto ao pesadelo por dinheiro

Pague primeiro Ou uma quantia boa em sangue

Será cobrada E sua dívida marcada

no Rol dos InjustiçadospelavidaLotandoascelas

Ninguém tem culpa ninguém apela

Ninguém entende ninguém mais berra

12.6.07

Malaquias -

(o diabo Rei)

Rubem Garcia – O Coringa

Força bruta,

Soldado de paço...

Maluco e “malaco”,

Que nas horas vagas,

Andou de motoca,

Ganhou mais vadias,

Que um velho das docas…

Nadou na sarjeta,

A frase refeita

Num copo de coca…

Malungo dos becos,

Ladrão de botecos,

Pedindo, implorando…

Uns tragos, uns tecos,

A grana na mesa,

Valendo a sinuca,

O troco pro taxi,

Navalha pra puta…

30.5.07

Cachaça com Milome

(à Paulo C. – um homem á frente de outros)

Rubem Garcia – O Coringa

Cachaça com milome,

pra espantar lobisome,

Cachaça com milome...

pra arranjar matrimone...

Cachaça com milome,

ajuda a enganar a fome...

Cachaça com milome,

levanta as força do home...

Cachaça com milome,

o segredo já está no nome...

Cachaça com milome,

confunde Xeloque Romes...

"Só pode ser Armadilha,

prisão por formar quadrilha,

em véspera de são joão...

Menino soltando balão,

e velhos soltando bandidos,

O Estado inteiro falido,

seu crédito, seu falo,

escoando pelo ralo,

ditado de quem consome"...

cachaça com milome...

Blues Improvável

Rubem Garcia – O Coringa

Murmurando frases desconexas,

Num diálogo moribundo,

Um solilóquio urbano,

Egresso do submundo…

Vacilando entre parênteses,

(seguro do vento Sul)

Rastejando em semibreves,

Em notas de incerto blue…

No fim, no ponto, esbarro…

A fé cega como faca,

Forçando a barra, na marra,

Fui retirado de maca…

10.5.07

Aviso

(a quem interessar possa II)

Rubem Garcia - O Coringa

A quem interessar possa...

A farsa por aqui,

Já cheira a fossa...

Exaure a força,

Encurta a prosa.

A unha era vermelha,

O rosto rosa,

Deixa um rastro de perfume,

A casa cheia,

Muitos convivas para a ceia,

Migalhas da sua sobra,

Escombros da minha sombra,

Sombreiros pelas encostas,

Janelas às minhas costas,

No azul de metileno,

Estrelas entrecortadas,

Não brilham sem ter escuro,

Não sabem qualquer resposta,

A verdade que foi criada,

Calada e pouco disposta.

7.5.07

Notas Dissonantes

Rubem Garcia - o Coringa

Conforta aqui sua tristeza nova...

Manda as mazelas empoeiradas para os quintos...

Manda aos infernos as maquinações modernas...

Apressada por se trancar na caverna...

Na luta diária, Na agonia eterna...

Na sinfonia de cordas frouxas,

Tocada pela orquestra desmazelada,

Numa cidade desdentada fria e muda...

Um cinza que nos Oprime...

Um concreto que nos Amiúda...

Uma distância que nos afasta...

Uma cilada que nos basta,

Um cadafalso, um calabouço,

Uma afronta qualquer do destino,

Um parvo que nos fura os olhos,

Um tolo agredindo os tímpanos,

um tango argentino...

Esmeraldas engastadas na desgraça,

Enfeitando e ao mesmo tempo poluindo.

4.5.07

Uma Luz Ascende

(lodo e fogo fátuo)

Rubem Garcia _ O coringa

Deve ser algo com o fluxo energético,

Ou mesmo princípio ético,

Explicação metafísica...

A TV nos comandando na dinâmica,

Diluídos os progressos da ciência,

A controlar massas de mentes tísicas,

Anômalas segundo código genético,

Acéfalas, próprias para o consumo prático.

Seu exaltado tom de voz é bem enfático,

O resultado… um tanto quanto melancólico.

A argumentação de um velho mito folclórico,

Distorcida pelo efeito hipnótico.

No bordejar e desejar manter a ótica…

Satã Católico assoprando-lhe a espinha...

Erva daninha escapando do arado.

Deixa um legado imprestável ao meio todo,

Um mal fadado cheiro de coisa morta…

Um mal cheiroso fado lá de Lisboa.

12.4.07

A cega
Rubem Garcia - O coringa

De vez em quando eu penso em ser ladino...
Ladrar nos mundos, feito cão sem dono...
Instantes antes de tal abandono,
A cega me traga sorrindo...

vez por outra desejo ser moderno...
Ser prolíxo, contemporâneo, extemporâneo, liberto,
E toda vez que estou perto,
A cega me bica o fígado num suplícito eterno...

As vezes quero, outras eu tenho,
O sonho mais cálido, o gesto mais tenro, O suspiro mais denso,
E quanto mais eu ganho, tanto mais eu perco, muito mais eu penso,
E a cega me joga no chão de onde venho...

Das muitas vezes que quis ser sozinho,
Muitos comentaram, muitos complicaram,
Poucos escutaram, poucos entendeream...
E a cega retirou meu pequeno mundinho.
ORAÇõES DO ALTAR PROFANO
Rubem Garcia – O coringa

Soube de um beijo...
E ainda sinto fria a boca...
Tão longe que foi sua pele,
Tão perto estiveste na noite...
Em que a lua despiu-se, ,louca,
Como uma santa sob meus pés...


Pernas caminharam mundos...
comeram léguas ao longo dos anos...
tão longe ficou a pele,
tão perto de ser memória,
da lua esmaecida,
ciente de seus enganos,
como uma santa a meus pés...

Movimentos celestes, conspiração,
Movendo as pás do moinho,
Marés nas calhas da roda,
Maré em seu fluxo contínuo,
Transmutando água em vinho...
Como uma santa sob meus pés...

Tanta verdade, tanta alegria,
Surgida num instante breve,
Tão perto da tela fria,
tão certo o frio do inverno,
Febril qual carícia breve,
Daquela santa sob meus pés...

24.1.07

A Praça do Cantor
Rubem Garcia - O Coringa


Sou mais um que não reclama da vida...
Homem que não tem rancor.
Sorte, dor, amor e gozo...
no salto da porta bandeira.
Sorte, dor, amor e gozo,
no susto de uma tarde inteira
naquela praça.
No cinza de um olhar distante daquela praça.
Famílias entretendo os filhos naquela praça...
Eu penso e passo o desatino...
E sou mais um que não reclama da vida...
homem que não tem rancor.
Que não sai de onde veio,
ainda que um senão o afasta.
Que não sai de onde veio,
um Sol a meia luz, já gasta
naquela praça!
No cinza de um olhar distante daquela praça!
Famílias entretendo os filhos,
naquela praça...
eu tenso e a vida passa ao longe,
naquela praça...
prum samba que me convidou!

1.1.07

PREMISSAS
Rubem Garcia – o coringa

Pura preguiça de pegar um pote,
Para por as pedras do porto...
Puro o punhal para pouca pena,
Pintam as parênteses no ponto,
Prevejo primeiro encontro,
Planejo próximação.
Premeditada penetração...
Prognóstico pós preparado,
Punhos propensos,
Premonição...
Primeiro dia do ano,
Primeiros planos,
Precisão predileta.
Primeiro pagão no palácio,
Lacraia de pasto,
Penetra de festa...