21.2.11

Ressaca

Maia

Ela vai chorar a noite inteira
porque eu perdi tudo no pôquer
numa noite de bebedeira...
ainda passei em casa suspeita
que fica no fim da ladeira
e só cheguei contando os cacos
na manhã da quinta feira.
Ela vai gritar e espernear,
vai atrasar o meu almoço
e preferir me ver rolar
na lama do fundo do poço.
Me querer preso,
me querer morto,
mas o meu preço
é o peso em ouro...
Peso de touro.
Vai merecer o meu sumiço
e, cedo ou tarde,
bem mais que isso.
Vai perecer no meu recesso,
no meu regresso,
Nos meus excessos,
no meu estado.
Ela vai sorrir,
dizer bobagens,
como sempre faz nos fins de tarde.
Os dias passarão sem mais alarde.
Eu, passarinho
quintaneando,
canto um tango
cá no meu ninho...
Tragédia grega
não assisto sozinho
e a vizinhança
já me percebe.

17.2.11

Fractal

Maia

Amanhã vira ontem
e a gente nem percebe,
mas agora
é o tempo inteiro...
e passa boi,
passa boiada,
as noites em cavalgada...
centenas de madrugadas,
centelhas.
Amanhã vira ontem
nas manhãs por sobre as telhas,
no primeiro grito do galo
e no berro das ovelhas
a caminho da igreja.
Peço que pare,
observe,
veja...
Muito mais importante
que a marca do alvejante
é o pano que alveja...
e o cheiro é reconfortante,
o brilho de um diamante,
o toque da minha amante,
o frescor de uma gota de orvalho.
Acredite,
é do caralho!
Uma descoberta a cada dia
e cada noite de agonia,
cada sobra de pesadelo
é um morcego
embaraçado no seu cabelo,
uma cabeça de nego.
Pecado, rifa e revista
são fardos que pago a vista...
Alma de artista,
corpo de sátiro,
cinismo de santa - puta
que nunca exita
em deixar recado.

5.2.11

Lição de Van Dame

Maia

Jamais lutar pelo amor de outro
Jamais lutar e se render
Jamais negar
e nunca
nunca retroceder