22.12.11


Hino de Maya

Maia

Vendei a alegria a prestação
nos vendai os olhos
ou prendei na gaiola
de olhos furados...
Cantaremos hinos de louvor
à vossos antepassados.
Lágrimas de dor
do nossos olhos furados...
Clamores ao Cristo crucificado
ao pão nosso
e ao que roubai de nós todo dia...
até extraírdes a última gota de sangue
ou venderdes a ultima alegria.

Nos vendei nas esquinas como escravos
e todos seremos como parvos.
Judeus, muçulmanos e católicos
Xiitas, sunitas, anarquistas
berrando por castigos mais rigorosos,
trancando no quarto nossas mulheres castradas
para gerarem filhos neuróticos
e perpetuar a carnificina.

Entre um gole de arsênico e um de pinga
entre uma bomba em novaiorque, outra na china
sempre presa fácil ao vosso chamado
por uma boa foda, vez por outra,
um pedaço a mais de carne gorda no prato

Não retirai a vossa ilusão...
eu fico chato,
eu mato,
eu grito,
eu dou um faniquito,
por não conseguir encarar o fato.
O mundo sempre muda...
O tempo sempre passa...
Se do futuro ninguém sabe
o passado é fumaça.

Entre um trago de cigarro e um de cachaça,
vã tentativa, desvendar vossas trapaças,
vossos ardis...
O escárnio oculto nas vosssas charadas
caras marcadas
tão inocentes que ninguém diz...

Não retirai vossa ilusão
eu fico aflito
eu corro,
eu morro
em outro faniquito
por não conseguir encarar que os fatos
nem sempre são tão exatos.

11.11.11

Nas redes

Maia

Para onde eu vou o vento me espalha,
o Sol completa minha sombra...
Se teu espanto já não te atrapalha,
já não me atrapalha...
mas recolhe o fio dessa navalha
que te corta a carne
e a copiosa lombra...
Olho de cobra te segue,
na pedra o sapo se assombra.
Explode a bomba
de mais uma crise no congresso.
Um novo comercial da Esso:
There's a tiger no chassis
e o rio Ganges na Índia...
Existe miséria no mundo,
mas existe o novo e o belo.
Existe a cruz, o martelo
e a foice do carrasco.
O Diabo a tinir nos cascos
e Deus nas palavras cruzadas
demônios dando risada,
Exús nas encruzilhadas,
cartas marcadas e serviços dados.
A vida num jogo de dados...
num banco de dados de uma megastore
nova história de brinquedos vivos
e lutas pelos becos...
Um que dá um teco,
Outro dá um tiro,
eu, que mal respiro,
dou a cara a tapa
e sempre sobrevivo.

26.10.11

Peremptória

Maia

És a rainha da saudade,
és a vontade...
o mais bonito fim de tarde
deste ano.
És a senhora das verdades,
ou das metades...
a mais cruel das maldades,
num gesto puro de caridade...
ainda nesta vida.
És a cilada,
És a saída,
ou o gole de cachaça...
entre um soco e outro na cara
e mais um tiro
que ecoa na madrugada.
Estás no nada
e do nada regressará
que a dor só passa
quando sara
assim foi e assim será

6.10.11

Garatujos
(Mecanismo emperrado)
MaIa
não ando,
Perambulo...
De galho em galho...
De muro em muro...
De braços com a madrugada,
Prefiro caminho mais escuro.
Acredite que sou inocente.
Eu JURO!!!
Luas de Marte

Maia

Eu não brilhasse às luzes da ribalta,
e no tablado a noite avizinhasse...
em caixa alta um pensamento urgisse
em tons maiores a torná-la minha.
Despida de panos, de medos abjetos,
inteira num espaço à salvo dos anos.
No centro dos Planos
qual superfície líquida em repouso,
repleta de gozo, movimentos lentos,
a tez morena e gestos tão excêntricos
que se propagam em círculos concêntricos.
toque divino, desígnio secreto
de um mero objeto direto do acaso...
Atirado a esmo em Deimos e Fobos,
no fogo aprisionado...
Evento inesperado do destino.
Eu já fui guerreiro, e fui bandido
e fui menino...
um exilado desse mundo mercenário
em teus anseios, em teus seios mergulhado
mal esperando despertar uma fagulha
uma fumaça, uma centelha ou mesmo brasa.
Um fragmento que te permita incendiar
em outra vigília mais amena...
minha casa

28.9.11


Capciosa

Maia

Bem comigo
e a Deus
o castigo dos meus inimigos
eu não ligo
pouco importa
adeus a quem fechou a porta
do coração
ao meu imã
meu afã
Aquele abraço a quem não é meu fã
Beijo Kármico

Maia

De paradoxo em paradoxo
recebe o ósculo
e percebe
heterodoxo desejo.
Vias de fato
que nem no mato
sem cachorro.
Mulher no quarto,
minguante
desde a sexta-feira,
no vão da porta,
ou na janela...
uma vida inteira indecisa.
Cisma primeira
de ideias que lhes são impostas.
beleza posta...
nas apostas não põe mais mesa
a mil princesas...
madrastas e sapos nas costas.
Eu, outros lugares...
pensando quais são os males,
quais são os mares...
mas navegar impreciso é preciso!

25.9.11

Panariço

Maia

Certas noites o nada é nada,
as emoções só deslumbres da fada.
Noites em que o ar é frio
o vazio me espreita no quarto.
O vento diz: "qualquer vadia esquenta a cama,
qualquer dose de scotch acende a chama
e qualquer abraço é bom amparo.
Já que o rosto do inimigo não é claro
qualquer rosto amigo é caro.

Certas noites o sono não vem mais,
a menina diz jaz
e num dado instante tudo é morto.
Qualquer olhada é gesto,
qualquer banquete é resto,
qualquer rosto não é tela,
qualquer corpo não é ela
e não resolve.

certas manhãs como esta,
a solidão
é a bala do revólver...
e a ponta da lança...
Maya exibe sua dança.

9.9.11

Um corte no olho
(Eu não tenho essa ética!)

Maia

Da intolerância ao crime...
Do crime
para qualquer encruzilhada.
Bota um ebó,
desata o nó,
corta à navalha
e a carne cortada,
o sangue na lâmina,
a flâmula que agitas,
a bandeira que levantas
Só a tua ligeira impressão,
mais nada.

Da Ignorância ao crime...
Do crime
para qualquer banco de praça.
Toma um goró,
desata o nó
dessa gravata.
A pressa te envenena
com gordura saturada
e teu coração infarta.
Só a merecida consequência,
mais nada.

Do crime ao castigo
e do castigo
à apreciação do bom ladrão.
A quem compete
julgar mortos e vivos
no dia do juízo...
A mim não!

18.8.11

Às Quintas

Maia



Valha nos Deus,
Nossa Senhora...
A noite já vai embora,
é preciso acabar o samba
e me recolher à alcova.
A canseira não é pequena,
saudades da morena
e o peso da bebedeira.
É melhor que ficar de bobeira
manhã inteira mandando rima.
Jogando cachaça por cima,
jogando conversa fora...
e o samba comendo no centro,
“Cumendo com cuento”,
aumentando um ponto...
Valha nos Deus, Nossa Senhora

7.8.11

Pura falta de Vergonha
(sambando na lama)
Maia

Esse teu jeito de dizer que gosta
Esse teu charme
Esse teu jeito de dizer que goza
esse teu charme
essa gilete cega que nos corta a carne
essa luz posta
esse teu charme
e o jeito de me fazer enorme
frente aos mortais
esse teu charme
é de querer e pedir sempre mais
já vão três noites
já não posso mais
esse teu charme
que me domina
sempre corro atrás
esse teu charme
está nas esquinas
nos postos de gás
esse teu charme
está nas putas
nas lutas de sangue
esse teu charme
paralisa as massas
mobiliza as gangues
as motocicletas
esse teu charme
que me quer nos becos
no calor das cobertas
esse teu charme
sempre nos botecos
sempre na sarjeta
esse teu charme

3.8.11

A Marcial

Maia


Já estive em dias de disputas
e noites de consenso formado.
Já houve lutas em que fui o general,
noutras nem soldado raso.
Ficará fácil entender o meu caso
se apelarmos para o passado:
para revelações bombásticas
notas de alto impacto;
melhores momentos que não cabem num compacto;
flashbacks preenchendo alguns hiatos,
colorindo meus momentos de falta de tato.
Não me interpretes mal... mal não lhe faço...
Não finja estender a mão enquanto tenta apressar o passo
rumo ao descompasso do seu coração.
Qquem não consegue fugir da solidão
vai,cedo ou tarde, encarar a fera.
Saber que ela cala fácil, fala macio mas bate à vera...
Deixa os sentidos no chão
deixa hematomas, deixa sequelas...
manchas que Omo não tira,
outras que o tempo leva...
e tudo vira tudo de novo.
Começo sobrepõe-se ao fim
e um mais afim manda no jogo...
quando é bem pago, quando é bem rico,
vence sem rogo: na sorte ou no roubo...
Pouco importa!
A lua já vai alta e a noite é morta...
Suspiros do fundo d'alma.
dá hora mais clara da calmaria
quando nenhum vento sopra.
A melodia é absoluta
sem mão qualquer para segurar a batuta
o universo se rege

12.7.11

Avant-garde

Maia

Caso descubram uma nova poética
das coisas reais e concretas,
que transformem poesia em ciência exata
com fórmulas, princípios e tábulas rasas,
não haverá mais refúgio em suas casas,
ou abrigo em baixo das asas da matrona.
Jaracuçu cabeça-de-patrona há de andar solta no terreiro
quando se amealharem sentimentos a esmo,
ou se trocarem versos e olhares por dinheiro
e o poeta em si não valha por ele mesmo,
o próprio peso.
Quando não cortar na carne,
escrever e sair ileso,
sem qualquer risco de ser preso,
sem desafiar normas de conduta.
Quando na poesia só houver filho da puta
recuo e vou lutar guerra de trincheira.
Cultivar poesia verdadeira
nas estufas do meu apartamento,
para depois soltá-las ao vento
tal qual tráfico de entorpecentes.
Hei de colher algum fruto decente.

29.6.11

Qualquer coisa ao molho

Maia

Na base do dente por dente,
do olho por olho...
De alho e bugalho,
em qualquer noite...
num lugar qualquer,
na casa do caralho.
A procura de um amigo,
procura de mulher,
um porto,
ou um pouco de tato...
Nesse mundo meio morto,
no mar, ou no mato
sem cachorro.
De tanta a paz peço trégua,
essa paz armada,
esses fid'uma égua.
Esse prenúncio de guerra,
falsa calmaria...
esse Osama na terra
a suprema ironia
Obama nas alturas.
Essa a brecha do jogo,
água muita me afoga
e a política em voga
é o fogo com fogo.
É o Cristo! É a cruz...
É o espelho no teto,
e nos falta projeto...
essa falta de luz.
A verdade a ser dita
faz-se mister
e não cabe no twitter.

10.6.11

Sonare

Maia

Em tua boca
a minha...
a boca...
a intensa privação de sentidos.
As linhas
mal traçadas dos teus gemidos...
o meu destino.
O tempo, clandestino,
escorrendo em gotas largas
pelo teu pescoço.
Inquietas mãos postas
pelas costas largas,
pelo teu dorso
rasgam véus.
Os teus pelos,
eriçados pelos meus apelos,
denunciam suaves intenções...
desejos secretos...
De amarrar ao pé da cama,
e ser objeto,
animal de estimação, escravo...
Cativeiro, privação...
apenas mais um parvo
no enredo lúbrico da tua ilusão...
Sacrificado ao teu deleite,
ao teu desfrute,
ao seu requinte.
O servo fiel do teu reinado...
Chama-te somente amor para ser de novo batizado!

7.6.11

Outra por ti

Maia

Não é mais noite
já o Sol incendeia
já o instante clareia
já é outra por ti
Um regalo
aproveito e me calo
falo mais por meu falo
é outra por ti
Luz na terra
a verdade me erra
e desperta-me a fera
e foi outra por ti
ou me cegas
o condão que me negas
do luto que que carregas
ou foi outra por ti
cem mil anos
labirintos ciganos
serão muitos enganos
serão muitas as cegas
serão muitos os cortes
de navalha na carne
até os ossos do peito
serão muitos defeitos
mundo polarizado
serão muitos os lados
serão muitas por ti.