20.3.12

 chocolate meio amargo
o âmago dos sentimentos
os pensamentos desse domingo
o peso dos anos
o tinir dos sinos
a pressa do tempo
nos momentos mágicos
os finais tragicômicos

Amigo do acaso

Maia

Já não sei mais quem é o acaso
por descaso
esqueci seu bordão
nas portas das putas
pelas voltas do destino
e nos tombos e buracos da estrada
Deixe cair a foto que carregava
e do acaso escaparam-me os traços
previsível o fedor do fracasso
estar possesso ou enfadado
a ponto de um enfarto no miocárdio
previsível esse mundo amargurado
a data do salário
o nervo exposto
a lombalgia
Essa previsível nostalgia
essa repetição do passado
tudo por um rosto que foi esquecido
como esquecido foi o sabor do acaso
Sonho em vê-lo
de relance
decerto reconheceria
espero pelo acaso em cada esquina
em cada sorriso novo
em cada velho gole de pinga
em cada pingo de chuva passageira
em cada passageiro do avião
num pequeno apartamento
quarto e sala
o acaso há de cavar a sua vala
a minha cova
e descansaremos juntos


Supernova de incertezas

Maia

Rasgando ecos da vida
os restos do sonho que fomos
e os rastros de mal espalhado
a bagunça para todo lado
o enfado
o abandono
do resgate de um mundo sem dono
de um gato de rua
de um cachorro sem sono
ganindo pra lua
queixoso de uma culpa
que era toda sua
e que não quer mais
hesitando a cada passo
por não mais ter ais
por não mais ter choro
nem vela

O inesperado nos bate à porta

Maia

De repente
você deixou de ser criança,
e nem percebe
que já deixou de ser criança.
Nem percebe...
É outro jogo,
é outra dança
e você inocente.
Outra batalha,
outra comédia
e você incoerente...
De repente
você não é adolescente,
e nem sente
que já não é adolescente...
e ainda sente
a velha rebeldia,
inda que sem causa...
A velha agonia
em fins de tarde no domingo...
De repente
você, faz tempo, é adulto...
e é um insulto
ter que pagar tanto tributo,
e é um insulto
sustentar o tal contrato.
De Sol a Sol
pagar o pato
e você cansa...
Porque deixou de ser criança...
e já nem sente,
pois não é mais adolescente...
nem percebe,
que só o tempo te persegue.

Cacos de amores

Maia

Como não estar?
Melhor comigo...
sangrar como sangraram mil mulheres,
não no peito do meu inimigo.
Lágrimas de mil virgens e meretrizes,
malícia de mil atrizes
e a violência atroz
escorrendo por suas cicatrizes de batalha.
Navalha de algum malandro
no fim do ano será comida certa
aos tubarões.
Como não estar?
Com ou sem nexo
alienígenas para bailar
para compensar surtos com sexo
na sexta feira...
ou no fim da festa...
Dá-me pouco
Não esta,
Não presta.
Eu não quero-quero...
nem bem-te-vi,
nem andorinha,
se ainda agorinha
o amor que tu me tinhas era vidro.