20.3.12


Amigo do acaso

Maia

Já não sei mais quem é o acaso
por descaso
esqueci seu bordão
nas portas das putas
pelas voltas do destino
e nos tombos e buracos da estrada
Deixe cair a foto que carregava
e do acaso escaparam-me os traços
previsível o fedor do fracasso
estar possesso ou enfadado
a ponto de um enfarto no miocárdio
previsível esse mundo amargurado
a data do salário
o nervo exposto
a lombalgia
Essa previsível nostalgia
essa repetição do passado
tudo por um rosto que foi esquecido
como esquecido foi o sabor do acaso
Sonho em vê-lo
de relance
decerto reconheceria
espero pelo acaso em cada esquina
em cada sorriso novo
em cada velho gole de pinga
em cada pingo de chuva passageira
em cada passageiro do avião
num pequeno apartamento
quarto e sala
o acaso há de cavar a sua vala
a minha cova
e descansaremos juntos

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