19.7.12

Fantasma

Maia


Eu sou o que não tem jeito.
Defeito...
o que não tem hora.
Demora
e não é perfeito,
refeito...
constrito em mora.

Eu sou o que goza fora.
Agora,
não sou o sujeito.
Direito
tenho à desforra...
Aforas
da dor no peito.

A sombra que te apavora...
Quimeras
de que sou feito:
O despeito
de quem me ignora...
A ira
de quem rejeito.

25.5.12

Hipertenso

Maia


Passeio
ao largo do lugar que não pertenço,
à sombra de um luar que não percebo...
por perto um coração que desconheço.
Anseio
por alguma novidade
e teu mamilo,
pela alcova da verdade
e a corcova do camelo.

Receio
o prenúncio do fim da atividade
do circuncidar do prepúcio.
Um tanto mais lúcido,
a pupila me dilata
ciente da curva do teu seio...
Mais um processo,
por certo mais um coração que desconheço...

...e ainda é só o começo
do recreio.

7.5.12

Alguns trocados

Maia

Em cantos extremos do universo
debates sobre o meu destino...
meu verso,
minha alma desgovernada,
meu desatino...
Eu sequer faço parte
ou existo?
Fingindo de morto,
rei torto e sem porto
posto a prova...
Meu nome é povo,
minha nota é a sobra...
minha sombra a multidão.
Em esquinas da vida
cento e cinquenta horas
de horário político
e o que virá se decide
longe dos meus ouvidos.
- as cenas dos próximos capítulos,
dos dramas mais íntimos
ou mais explícitos,
dos momentos mais críticos!
Eu não faço parte disso?
E a ampla defesa?
O devido processo legal?
A presunção de inocência?
Decretaram a minha revelia
por citação editalícia,
arquitetada com muita malicia
por um falso messias,
um salvador da pátria.
Meu nome
e sobrenome é povo.
Oculto no anonimato
questiono os fatos,
a razão de todos os atos,
posturas.
O por traz das aparências,
toda presença, toda ausência
e todo preço que me é cobrado...
Só para ver se me sobram alguns trocados

25.4.12

À moda
Maia

Eu sou aquele amante à moda antiga...
do tipo que ainda arranja briga,
do tipo que ainda manda flores,
do tipo que ampara suas dores
e vê as cores desbotadas dessa tela.

Eu sou o do jantar a luz de velas.
Aquele que sonha em tê-la
e sonhou que estavas tão linda.
Acordou e estavas vazia.

Nem percebi tua partida
porque vazia estava minha taça.
Completei-a com sangue
e passei de graça.

Sentei na praça,
no mesmo banco
daquele jardim...
ninguém esperou por mim
à sombra do abacateiro.

Não acabava o janeiro,
o mormaço da minha jaula.
Não acabava a aula, Rita!
Não acabava aquela dita
e desdita profecia.

Eu sou aquele amante que partia
sem choro nem despedida
e com olhos no horizonte.
Embriagado pela água dessa fonte,
algo que nunca fenece.
Eu sou aquele que
jamais
esquece!

21.4.12


Redentor do Universo
(Kali Ma)

Maia

Um aviso a quem me esquece.
Eu sou o seu pior pecado.
Um chute no saco
que não teve troco,
o baque seco
da queda de qualquer herói.
Decerto não soube brigar,
mas pela prática descobri onde mais dói.

Um aviso a quem não esquece.
Eu posso esperar por anos...
Eu posso mudar os planos
e causar mais danos
que um tsunami
numa praia deserta.

O aviso geral
é o que gera a polêmica...
A natureza endêmica
da minha face oculta.
A sombra que move a mão
à faca que executa,
estraçalha o ventre da puta,
violenta milhões de mulheres.
Todos os dias
todas as cores
se perdem
e nem todos os gatos
são pardos.

7.4.12

Outros Olhos
Maia

Há quem ainda te veja como bela,
E quem não te veja com outros olhos.
Há quem não precise da lua amarela
A vigiar  tua janela
E iluminar minha vigília.
Novo evangelho
Nascido em minha bíblia.
-Nova gramática
Da língua portuguesa-
Explosões de azul turquesa...
A tua beleza,
Posta a prova em minhas mãos.
Há quem não precise da tua janela,
Para trazer sentido as serenatas.
A gaita de ouro
Ofuscou a lua prata...
A minha certeza
Posta a prova em tuas mãos...

20.3.12

 chocolate meio amargo
o âmago dos sentimentos
os pensamentos desse domingo
o peso dos anos
o tinir dos sinos
a pressa do tempo
nos momentos mágicos
os finais tragicômicos

Amigo do acaso

Maia

Já não sei mais quem é o acaso
por descaso
esqueci seu bordão
nas portas das putas
pelas voltas do destino
e nos tombos e buracos da estrada
Deixe cair a foto que carregava
e do acaso escaparam-me os traços
previsível o fedor do fracasso
estar possesso ou enfadado
a ponto de um enfarto no miocárdio
previsível esse mundo amargurado
a data do salário
o nervo exposto
a lombalgia
Essa previsível nostalgia
essa repetição do passado
tudo por um rosto que foi esquecido
como esquecido foi o sabor do acaso
Sonho em vê-lo
de relance
decerto reconheceria
espero pelo acaso em cada esquina
em cada sorriso novo
em cada velho gole de pinga
em cada pingo de chuva passageira
em cada passageiro do avião
num pequeno apartamento
quarto e sala
o acaso há de cavar a sua vala
a minha cova
e descansaremos juntos


Supernova de incertezas

Maia

Rasgando ecos da vida
os restos do sonho que fomos
e os rastros de mal espalhado
a bagunça para todo lado
o enfado
o abandono
do resgate de um mundo sem dono
de um gato de rua
de um cachorro sem sono
ganindo pra lua
queixoso de uma culpa
que era toda sua
e que não quer mais
hesitando a cada passo
por não mais ter ais
por não mais ter choro
nem vela

O inesperado nos bate à porta

Maia

De repente
você deixou de ser criança,
e nem percebe
que já deixou de ser criança.
Nem percebe...
É outro jogo,
é outra dança
e você inocente.
Outra batalha,
outra comédia
e você incoerente...
De repente
você não é adolescente,
e nem sente
que já não é adolescente...
e ainda sente
a velha rebeldia,
inda que sem causa...
A velha agonia
em fins de tarde no domingo...
De repente
você, faz tempo, é adulto...
e é um insulto
ter que pagar tanto tributo,
e é um insulto
sustentar o tal contrato.
De Sol a Sol
pagar o pato
e você cansa...
Porque deixou de ser criança...
e já nem sente,
pois não é mais adolescente...
nem percebe,
que só o tempo te persegue.

Cacos de amores

Maia

Como não estar?
Melhor comigo...
sangrar como sangraram mil mulheres,
não no peito do meu inimigo.
Lágrimas de mil virgens e meretrizes,
malícia de mil atrizes
e a violência atroz
escorrendo por suas cicatrizes de batalha.
Navalha de algum malandro
no fim do ano será comida certa
aos tubarões.
Como não estar?
Com ou sem nexo
alienígenas para bailar
para compensar surtos com sexo
na sexta feira...
ou no fim da festa...
Dá-me pouco
Não esta,
Não presta.
Eu não quero-quero...
nem bem-te-vi,
nem andorinha,
se ainda agorinha
o amor que tu me tinhas era vidro.

4.2.12

Balão verde
(o justo)
Maia

Eu quero cantar,
quero encantar os corações...
multiplicar a minha voz.
Deixar voar os meus balões,
condecorar o meu herói
e perdoar seus inimigos.

Quero mostrar o que me dói
para salvar o meu amigo
e celebrar cada conquista.
Expandir o meu domínio
até onde alcança a vista.

Quero Remir os meus pecados,
dizer o que deve ser dito
sem precisar deixar recados,
ou deixar pistas.
Para isso o diabo me fez maldito,
porque Deus me fez artista.
Balão Vermelho
(o mal Juízo)


Maia

Eu amava o passarinho
caído do ninho,
tão pequeno,
tão machucado o bichinho...
Não ia sobreviver,
eu matei.

Eu amava o gatinho
perdido no mato,
miando sozinho,
com fome e com frio o bichinho...
Não ia sobreviver,
eu matei.

Eu amava o garotinho
que brincava no quarto sozinho
quando a parede caiu,
tão ferido, tão frágil o pobrezinho...
Não ia sobreviver,
eu matei...

eu te amo