25.10.10

SERVIÇO DE MALAQUIAS

(nem sempre tão sensível)

Maia


Eu tentava parecer indiferente,

Você tentava parecer descontraída.

Eu tentava parecer relaxado,

Você tentava parecer segura .


Assim passava a tarde

e nada

de um olho no olho

de literatura rodriguiana


Você tentava parecer interessada,

eu tentava parecer interessante.

Você tentava disfarçar os poucos anos,

eu tentava não parecer tão velho.


Assim passava a tarde

e nada

de um dente por dente,

um tete a tete, sem bandeiras.


Eu tentava não parecer “tão sensível”,

você tentava não parecer frustrada.

Eu tentava não medir esforços,

você tentava não pedir reforços.


Assim passava a tarde

e nada dos nossos negócios,

dos nossos assuntos.

Teoria e teoremas

a serem testados juntos.

Análises morfossintáticas

sem regras de gramática...

ou pragmáticas

convenções sociais.


Eu tentava parecer maduro,

você tentava parecer aquela menina.

Eu tentava não parecer tão cansado,

você tentava não mostrar tua tristeza!

(“a minha tristeza também!” Berrou Bandeira)

A tristeza dos poetas...

do tempo que nunca passava.

A tarde esfriava e a cabeça fervia.

a febre que não ardia

mal consumia os egos incautos.


verdade que nos faltava,

não planejava, mas me ocorria...

saber se você toparia, quem sabe um dia

conversar no meu quarto?

13.10.10

O não aquilo
Maia

Já não sou gente,
Sou Maya...
Mestre supremo da ilusão
Que veio para reconfortá-la

Abre a janela e olha a lua alta
E no fundo da mente responde:
O que te falta? A luz pálida, etérea
Que ilumina as grades de tua prisão?

Já não sou gente,
Sou Maya...
Mero lacaio da ilusão
Que veio para conformá-la

O grande mentiroso, o zombeteiro
Senhor de putas e puteiros
A chafurdar na lama dos canteiros
Que suja, macula o teu tesão

Já não sou gente,
Sou Maya...
Grande palhaço da ilusão
Que veio para alegrá-la

Consulta o íntimo, o fundo do espelho...
Perscruta as minhas graças bobas, os meus conselhos
Ri primeiro da tua ingênua esperança,
antes de rir das minhas cabriolas de bufão.

Já não sou gente,
Sou Maya...
Mais uma vítima da ilusão
Que veio para atropelá-la.
My best Wishes
Maia
Renunciarei ao mundo que já não pertenço
e deixarei a natureza seguir seu curso.
O tempo se encarregue de tudo
E meu velho cão me lamba às feridas.
O esquecimento me roube as velhas dores,
As velhas vidas,
A depressão puerperal
de um parto que não tive:
Um filho não nascido,
Um projeto inacabado,
Um amor falido,
Uma ou outra semi-realização
E toda a mágoa...
Pois qualquer sujeira sai na água.

7.10.10

Saguão do aeroporto

(próxima Partida)


Maia


Que do amar senão o beijo?

Que peso tem o pejo da existência?

Quando a dor se vai,

ou mesmo quando é imensa...

é apenas fruto do apego

do medo

da mesma madrugada fria...

algoz de tua mente.

A bagagem te espera na esteira

e no mundo te espera o julgamento

sem clarividência,

sem o menor dos presságios

pago o ágio cobrado

por cada uma das escolhas.

Partes inexorável...

sem destino certo,

sem certezas...

a duvida sempre será tua companheira

por cada caminho novo,

a cada decisão,

em cada céu de brigadeiro

onde voas

e não podes te quedar insatisfeito.

Te assombra a solidão,

cada erro

ou mal

que julgas haver cometido.

Não resta outra opção,

senão escolher outro destino

e partir no desatino, no desespero,

para outro voo torto de morcego.