14.5.11

Manhã desfeita em partes

Maia

De pernas para o ar
parte
e como é tarde
está extinta a aurora
como a arte
a mente arde
Parte
como quem esteve outrora
um pouco antes
destarte
distante de quem te carpe
Parte
em ruas tão poluídas
em vias obstruídas
quem poderia estar antes
parte sempre tão fulminante
no pouco tempo restante
no relógio da parede
no retrato da estante
no instante
marcado
à sombra de uma partida

6.5.11

Ilustre desconhecido

Maia

Quem é esse anjo antigo
que me encara no espelho?
Esse rosto marcado,
esse anjo de olhos vermelhos?
Sem dúvidas muito mais velho
esse ilustre desconhecido...
que caminhos há percorrido
até ter comigo...
nesse quarto escuro,
nesse tempo sombrio?
Onde o ar é impuro,
o coração vazio
e a dieta, nada saudável!
Sabor inacreditável!
Amor de boneca inflável,
incomensurável paixão...
partiu tão desiludida
para outra vida
perto dos mortos...
meus velhos caminhos tortos
me conduziram
do nada ao nada...
ao meio da encruzilhada.
Aos pés da Santa Cruz...
do Santo Menino Jesus
ajoelhei e senti o peso
e perdi o medo
de saber o costume
e olhar a norma
e às vezes manter a forma
manter a pose...
mesmo coberto de estrume.
Morrer de ciúme
enquanto fode a “mulher dos outros”...
Aquele que me encara
ri na minha cara
no meio do espelho...
Aquele diabo de olhos vermelhos
Aquele demônio, aquele cretino...
o rugido me espanta,
mas me encanta
o sorriso lindo.
O mesmo que vi menino
a minha mãe sorrir um dia...
e de pensar, até faria
aquilo tudo, tudo de novo,
mas realçando o sabor do novo.
É esse homem,
frente ao espelho...
limpando os olhos vermelhos,
clareando a vista, exaurindo a fumaça.
Sabendo que tudo passa … nada passará.