2.12.15

Jurisdictio

MaIa


Hoje eu já sou eterno
e já vejo o mar,
enquanto  marco em meu caderno
tudo que há por fazer...
tudo que há por lembrar.
Tudo por possuir
o dom de profetizar.

Servir
ao oráculo de Delfos,
sacrossanta pitoniza...
que tanto me pede,
tanto me pisa...

Oh! Doce sacerdotiza...
já te julgaram impedida,
já te chamaram perdida,
injusta, bastarda, vendida,
muitos te negam guarida
nas grutas do nazaré.

Por medo muitos não falam...
por conveniência se calam
os que deveriam dizer.
Justiça cega no pórtico,
a espera do filho pródigo,
não delibera, não age, não vê...

28.9.15

Supérfluo vital

Maia 

As vezes
você sangra
e alguém some
por meses...
Não há como dizer 
que é normal
essa luta do bem
contra o mal,
caminhar do herói
à vilania.

As vezes...
é necessária
trégua,
um deslize
num mundo de regras,
algum equilíbrio
no caos.

As vezes o mundo
lhe impõe um tabu
preconceitos, 
julgamentos
caem,
que nem urubu
na carniça...

As vezes 
a engrenagem
enguiça,
e dá preguiça
de consertar.

As vezes a dor 
é tão pequena
que não vale 
à pena 
reparar.

21.9.15

Oxigênio

Maia

Um instante mais,
ou um tempo à mais?
É inutil o desespero, 
amor...
solidão encoleirada.

Momentos demais,
por um beijo mais...
ainda é gesto derradeiro,
amor...
um adeus acobertado.

A luz que me pegou
cansado e magro,
sentado a beira
de um ribeirão,
de um caminho
de caminhar só,
e não se ver
qualquer direção.

Já não há fé em Deus!
Não!
Já não há fé no homem...
Já não há fé no amor!
Não, já não há fé no homem.


Um carinho a mais,
sofrimento é mais...
uma desculpa esfarrapada,
amor...
depois a gente dá risada.

Mundo dos teus ais,
ilusão é paz...
a ignorância é santa,
amor...
sempre de boas companhias.

o fim do pensamento...
o fim do inferno...
o fim desse ciclo...
no final do inverno,
por tudo que se falou
ao Pai Eterno...

Já não há fé em Deus!
Não!
Já não há fé no homem.
Já não há fé no amor!
Não, já não há fé no homem.

15.9.15

Arrasa

Maia

A rosa louca
que me nega o beijo,
me nega a vez
e a louca ilusão do meu desejo,
partiu do Tejo...
lampejo de sorte.

A rosa louca rouba
um beijo da morte,
me concede um mote...
Expressar o dote
faz-se mister no pavão.

Pilatos me lavou as mãos,
Maria, a Magdala, as penas...
As dores seguem mais amenas
por veredas poucas...

A rosa rouca,
tanto tresloucada,
saiu em disparada...
mundo afora.
Agora chora,
ri, e se embriaga.
A minha paga...
A adaga do peito.
Meus muitos defeitos...
sonhos desfeitos sem dor.

Anti-resiliente

Maia

Você
Futuro distante
Eu
Fugindo descrente
A despeito
Do que houve antes
Por respeito
Ao que se faz presente
A trama
Mistério intrigante
Na cova
Espera indigente
A barca
Maré de vazante
Demanda
Que se faz urgente
Você
Presença constante
Eu
Engano das gentes

14.9.15

Mambembe

Maia

Engulas o choro,
e a dor
dessa desilusão...

Estejas atenta,
apenas,
aos teus bocados...
Desse pão-de-mel
amassado
pelo diabo.

Aqui na terra,
mesmo quando
o tempo é ameno,
o clima é pesado.

Qual o teu
coração,
trancado
a cadeado
para a melodia
da minha canção...

Para o meu
mais doce
chamado.

20.8.15

Fantasia do pirata
Maia

O refúgio
do último corsário
livre,
onde o sinal
dos tempos
ainda não chegou.

A quem pretenda ser
possuidor
dessa fome
que urge,
cumpre 
a satisfação
de saciá-la...
A obrigação
De consumi-la.

Pelos cantos,
entre os tijolos
da parede...
Entranhado na sala...
o odor acre dos cigarros.

Uma ebulição
que vem nas ruas,
entra nas veias
e pé na estrada...

O corso
nunca foi
de água
parada.

7.8.15

Capitanear sorrisos

Maia

Faltam motivos
pra te deixar ir embora...
Sobram razões,
preconceitos, preceitos,
seitas e religiões.

Falta fundamento em tantas paixões, quem quiser ser cristo
receba a primeira pedra.

A coragem nos falta
no princípio da queda
por medo daquilo que machuca.

Essa vontade maluca
de que a vida seja eterna,
de fingir que não há perda,
seguir vivendo a guerra.

Sem o quê ajude,
engolir a angústia
no pão nosso, dormido a dias...
das insondáveis agonias
que se cruzam na distância.

27.7.15

Capsulas de honestidade
Maia
Sou companhia
que não tenho.
Não te basta
a pouca coisa
que tem.

Não me vem
a companhia
que quero,
e já não esperas
a companhia
que nem vem.

Compre quem tiver
desdém...
Por pouco
mais que alguns trocados,
velhos e gastos
vinténs.

18.7.15

A Jahh Yo!!!
Maia
Ando pouco disposto
a tantos reencontros,
apegos, atalhos...

Desencontrados passos...
Tudo como antes
no inferno Dante...
Exato como é agora!

Sufocado em guache,
linhas pontilhadas,
traços...
Resolvi ser gauche
já que a vida é bela...

Melhor tê-la
em tela...

Sempre
em boas vistas,
boas vestes... Não as companhias,
mas as festas.

Eu quero Vela.
Ela no escuro...
luz de qualquer esquina...
Pedra filosofal
da câmara secreta.

Puro bálsamo

Na camarinha...
Tê-la...
Minha...
Cunhã...

10.7.15

Aquilo que fica

Maia

Um dia você me da bola,
um dia a gente ri...
bem na hora de partir,
noutro você chora.

Algum dia tudo volta
e a gente se embola.

Qualquer dia desses
estarei por ai...
e quando menos esperar
terei indo embora.

Não nos cabe dizer
se esse dia demora...

Caso algum dia
o universo se abrir...
será nossa hora de sorrir,
ainda que não seja agora.

Há um mundo esperando lá fora...
Um mundo que foi, e outro por vir.

29.6.15

Barba Azul

Maia

Sempre chove
pelo caminho
quando não quero ir.

Prefiro partir Sorrindo.

Não convertas
em lágrimas
o teu rancor,
ou a tua dor
mais enraizada...

Quando me vires partindo.

Vives o teu momento,
Enfim...
De continuar sem mim...

Como sempre.

Limpa teu campo,
e me apaga
da tua pele.

Lembre bem
o que te fez
o meu amor...

E enterre
a tua dor
com ele....

19.6.15

Jesus! Everybody hates Christ...

Maia

Ódio racial, Religioso...
Pedradas na cabeça
Do tinhoso,
Do cão.
Quem se vale
De corromper
Exús
É a intenção
Do sacerdote...
Seja católico
Apostólico
Romano,
Ou zelote,
Macumbeiro,
Mulçumano.
Alimentando
Humano ódio
Acumulado a anos...
Exterminar a diferença,
O livre arbítrio,
A livre crença...
Recalques
Nos dados estatísticos
Da livre imprensa
A justificar os crimes.
E nome de um Deus pai
Todo poderoso
Que nos oprime,
Nos escraviza...
Conceito,
Valores das igrejas
Que a divindade
não compartilha.

17.6.15

Amaralina

Amaralina

Maia

Minha casa tem
O tamanho do meu momento.
Minha alma
Em tudo que há por dentro,
Mente sana,
Reflexo vão.

Minha casa é minha mãe,
Meu pai,
meu amigo,
Meu irmão...
Todos os que carrego
No peito.

Minha casa
Tem vista pra vida
Que precisa ser vivida,
Que precisa ser vista.

Está ausente
O que falta
Na minha casa modesta...

16.6.15

Te perdes por sonhar
Maia

Não posso te dar
o que não tenho em mim.
Desculpe, amor,
mas sou assim...
senhor do impreciso,
servente do incorreto,
secretário do ilícito,
um poço de suplícios...
qualquer adjetivo
Me é correto...
Perdoe ser tão abjeto,
e pouco objetivo,
e por não ser o objeto
do verbo transitivo direto
amar.

20.4.15

Luz de Candeia
(enquanto houver samba na veia
empunharei meu violão)

Maia

De qualquer maneira
meu amor
eu canto
Embora o mundo nos divida
em cores, dores e mazelas
e a realidade já não seja aquela
em que o semelhante se compadece do seu pranto

De qualquer maneira
meu amor
eu canto
por vielas, repletas de mulambos
esquinas cheias de prostitutas,
favelas, prisões superlotadas
e gritos da multidão
qual trovoada
querendo jogar crianças aos leões

De qualquer maneira
meu amor
eu canto
nas vitrines da sociedade de consumo
carcomendo sonhos
fabricando insumos
novas necessidades
para substituir o que somos

Navegarão por vastos mares
mansos pastos
as vaidades
e assim caminha
assim caminhará a humanidade
em busca de um refrão


3.4.15

Perdão

Maia

Não pelo meu deslize,
mas pela constância no pecado.
Pela arrogância
de achar injusta
a raiva 
consequente
dos meus atos de desagrado.

A raiva é fruto do desvio
de caráter,
ou de um coração vazio...
A raiva é a busca do culpado,
muito mais saudável buscar a redenção,
isto é, para quem quiser o paraíso eterno...

Eu sou o fogo do inferno,
Nunca será minha intenção...

2.3.15

Ignotum per Ignotius

Maia

Nu,
a sós com minha dor,
contemplo o mundo.
Tantos blocos de concreto,
conceitos que são abstratos,
desejos abjetos,
Objetivos constantes.
Das cinzas às cinzas,
Pó à pó
acumulado...
ilusões para todos os gostos,
tristezas para todos os lados.
Multidões de solitários
e muita pouca solidariedade...
Há sempre o que fazer...
Há sempre que lutar...
Não há descanso...
Um momento de trégua
para os pés descalços.

Despido da vaidade,
contemplo mudo...
Ao largo da verdade
e da mentira,
que é tua a culpa que te pune,
que é tua a pena que expias
e que segues
a curtir o mal que te crucias
sem queixas.
Quem sabe assim
a tal felicidade
aproveite a deixa,
e deixe algum recado.

Que farei dos meus,
se Cristo já lavou

todos os pecados?

15.2.15

Dez Ordenamentos
(É carnaval... é hora de sambar... - Batatinha)
Maia

Vasculho cantos
a procura dos encantos
que as esquinas,
os enganos,
quimeras dos outros...
- crenças implantadas -
Obscureceram
no passar dos anos,
pasto dos asnos.

Abismos por todo planeta,
todo ser humano
tem a alma devastada...
ninguém mais acredita
em nada.
Muros,
esconjuros,
juros...

Emolumentos pagos,
lucros magros,
monumentos de papel crepom,
e prata...
Areia, cimento e brita
misturados na birita.

O pão nosso
década dia.

- Mentirás!
-O pecado do mundo...
- Punirás!
- O desejo do filho...

Agnus Pai.

9.2.15

Mikha'el
(Arcanjo)

Maia

Aquela lua de papel,
aquela carta
jogada sob tua porta...
Mensagem subliminar,
criança morta,
e tudo o que coube,
só desesperar...
nada mais importa.

Aquele vento quente
tal qual inferno...
Aquele cheiro
inconfundível
de gente,
cobra engolindo cobra.
Manobra arriscada,
um tiro largado na latrina
cheirando a bosta...
nada tão verdade.

Aquela felicidade,
falta de compromisso.
Não tenho entradas
para o baile da saudade
porque fui omisso...
Nem isso mais me coube,
só desesperar...
nunca tão deserto

Aquele choque
eletrocuta.
Aquele gole de conhaque
com cicuta,
limão e gelo
para esticar conversa...
Ainda é cedo...

Amor
sempre
por
fé,
jamais
por

medo.

8.2.15

Que não reclama da vida
(o ponto final)
Maia


Melhor esquecer
que não consigo
me aquecer
em tudo que está perto
evocar
outra existência
renascer
novo universo

a hora mais exata
da pura aritmética
um calculo mortal
limita meu verso
venda meus olhos

pedra que cantei
de variados modos
outras tantas noites

deu tempo de correr
mas me pegou de açoite
um rastro de estragos
seculares danos
mais um trago
e um tango
cantado entre estranhos

celebrai a madrugada
todos loucos
afoitos para dizer
que tudo mais é pouco
e o resto é sobra

pimenta na boca dos outros
logo vira carnaval na obra
manobra de caça jato
até um rato
me pediu socorro


dias que mato
morro

mas não me comovo

3.2.15

Prisma

Maia

A ninguém comento
tudo o quanto é triste,
mas sequer me engano.
Fiz minhas escolhas,
faz muitos anos,
e sei o que me espera.
Cores reveladas,
dores na janela,
muitos janeiros...
uma vida inteira
é demais
para viver atado...
Preso a um passado
que não tem mais volta.

Ganha quem passa primeiro,
sempre o mais ligeiro.
O melhor profeta
é o que acerta
em cheio a profecia.
Dessa profissão me desvencilho,
por um momento de sossego,
uma luz nesse manto negro
que possa guiar meu filho
a uma melhora na oferta.
O tempo é do já passou,
melhor assumir,
a hora é essa...
o tempo é agora
e se o medo aflora
melhor conter o impulso.

O remorso
não é de cobrar barato
e sem juros.

Recomeço nesse ponto,
o ponto do desamparo,
a beira do desapego
e me vem um desespero...
Um grito do fundo d'alma
me pede que tenha mais calma,
pois me falta paciência.
Hoje em dia, até a ciência
faz coro à vontade divina...
Existe uma volta por cima
que pode mudar essa história.
Para todo o mal existe cura
e mesmo a noite mais escura

termina em uma nova aurora.

17.1.15

Final das Contas

Maia

Seu desejo
pode até ser a minha morte.
Sua sorte
o meu beijo...
O meu fraco,
o jeito que fico
toda vez que vejo
o que vejo.

Quando tudo fica claro
eu me retiro,
e como é quente no meu quarto
essa época do ano.

Os tolos logo formam
a fila do engano.
Pronto para entrar em forma,
eu procuro formas
sem olhar a cor...
Eu invento normas
no inferno.

Eu envelheço,
depois renovo
e me decifro...
ninguém é parte disso.

O meu segredo
talvez lhe valha alguma sorte...
Era o momento
para firmar um compromisso,
eu fui omisso,

agora é tarde.

13.1.15

Carita

Maia

Caso te sobre desespero,
ou me falte paciência...
acredite nos desígnios de um Deus,
confie nos avanços da ciência
para encontrar algum consolo.

Perscrute o coração,
e a cada baque da ilusão
sinta que a vida te deu bolo
e roliúde é o sucesso.

A estrada é para cima,
para o alto...
Até que um novo caso
te tome de assalto
e leve a um novo casamento.

Pelas mão de um bom delírio
te escape o véu do sofrimento,
e encontres finalmente a contrição...

A remissão dos teus pecados,
a felicidade...
à margem da sociedade.

11.1.15

Face

Maia

A face escura da lua
a que você não vê
mas ainda assim flutua
iluminada sabe-se lá por que Sóis.

A face obscura de qualquer mulher
todas as caras escondidas
da única que você quer
luzindo nos arrebóis.

Há duas faces na moeda
alea jacta est
ascensão ou queda
dissonâncias ou bemóis.

A face daquele que sonha
santa inocência
tanta arrogância, tanta vergonha
vieram presas em meus anzóis.

À prima face
a prima-dona
apressou o desenlace
caramujou meus caracóis.