29.4.10

Canção do fim do inverno

Maia

Coloco essa dor pra fora
sem demora para me aprumar.
Um mar engoliu o meu rio
e o estio causou essa enchente.

Tem gente batendo janela,
aquela que esqueci fechada,
onde o nada perturba o meu sono...
Um abandono que deixou meu peito mudo.

Nenhum veludo amacia,
sacia, deixa confortável a cama...
Inflama trás aconchego, conforto
a um morto que retorna à história.

A vitória já é sonho distante,
amante de não sei qual nobre
de pobres expectativas
cativas de duras correntes.

Presente de fatos passados,
marcados por mal entendidos.
gemidos de velhos amigos,
castigo do meu carrasco.

"Nos cascos! Desperta agora!'
Impera a vida lá fora.
"Manda embora essa megera
e não espera acontecer".

"Vai nascer para uma nova consciência!
Paciência, vai ter um filho,
um trilho, uma direção...
Uma canção no fim desse inverno".



11.4.10


C...
(mocinhas não falam palavrão)
Maia


Pai, filho
e espírito
ungida é a comunhão
o pai é a harmonia
o filho é a melodia
o espírito comanda o ritmo
Música é a transcendência
são três aspectos unitários
nenhum de maior valença
são três unificados
pagos os pecados
paga a cadência
Como o beijo denso de Calíope
a poesia é a propria vertigem...
é míope
ou sofre de labirintite
o poeta é esquisofrênico
o freguês é tirâno
e entra ano e sai ano
fica mais exigente
quer o sangue da gente
quer que se foda
a Música é um resultado
incerto de loteria
satisfação, ilusão egolatria
são três aspectos unitários
nenhum de maior valença

8.4.10


Outrol cão andaluz
Maia
Me faltam as texturas de Dalí
Mas amo a luz refletida em olhos claros
amo as formas
diáfanas
sob o tecido fino da manhã Andaluzia
Me faltam as cores de Miró
mas amo o inominado
que vejo nas janelas
que levam para o interior de Andaluzia
Me faltam as gravuras de PIcasso
mas reflito minha mãe
meu pai,
meus antepassados
minha raiz...
de alentejano
lanço os pés sobre Andaluzia

6.4.10

Quebranto
Maia
procuro estar presente
pouco importa quem parta
ou mesmo quem fique
matendo a cabeça à flor d'água
alheio ao barco naufragado,
quimeras que foram a pique
atento ao fio da razão
sondo no espaço imenso
o rosto do Ser eterno
a luz da clarividência
para me despertar
deste meu inferno
e planto novas sementes
explosões de supernovas
por todos os cantos do universo
rompendo velhos grilhões
dos medos encadeados
que emudeceram meu verso
meu passo vai a outro campo
eu luto em outras trincheiras
em terras cinzas de verde pasto
o fim do meu pesadê-lo
quero mais sossego
a meus olhos gastos.