6.7.06

Sem Serventia

(à Wilfredo Santos Lessa, que perdeu a identidade)

Rubem Garcia - O coringa

Sem documentos não sou ninguém
não sou maria, não sou joão,
não tenho casa, não tenho vintém,
nem brioche, bolacha ou pão,
bife de fígado, corte de acém...
Sem documentos sequer existo.
Não sou brasileiro, também não insisto,
finjo de morto, ou esquecido,
não é comigo,
a solução.
O meu quinhão, já foi repartido,
como requerido por petição,
ou maldição,
no deferimento,
do testamento,
deixado em vida,
no lixo da esquina,
bala perdida,
no coração...
Contradição,
feita em queda livre,
rumo ao declive,
na flor da idade,
mal da cidade,
do feudo velho,
no fundo do espelho,
dos olhos fundos,
num fim de mundo,
em um segundo,
de letargia...
na terapia.
mudam os homens,
muda a poesia,
muda a fatia,
de pão na mesa,
dura certeza,
nunca afirmada,
de ser o nada,
uma fina sobra,
lacuna na obra
da raça humana.
ira serena,
de um Deus caótico,
Santo católico
na mão do Nazista,
ponto de vista,
na vassoura da bruxa,
no show da xuxa,
só pros baixinhos,
anões mesquinhos,
do orçamento...
lançam no esgoto a despesa pública,
e nossa súplica,
pelo perdão...

2 comentários:

  1. triste realidade, a do velho wilfras... hehehe

    bastante oportuno, rubinho! hehe

    abçao

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  2. Nossa, gostei desse poema! Realismo com sutileza, mas sem tirar a força do texto. Bonito e muito bom!

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