3.8.06

Sem Revanche
Rubem Garcia – O Coringa

Já não quero mais nenhum apego,
Nem encontro cabeça-de-nego,
Já não caminho mais com medo...
Tampouco guardo segredos,
Ou espalho maledicências...
Já perdi minha fé na ciência...
Já é largo o descrédito da igreja...
Ainda a pouco me deram cerveja...
E o que bebi foi amargo.
Já é tarde para mais um trago,
Ou para trazer de volta a infância.
E é tanta e tão ruidosa minha ânsia,
Não quer parar meu vômito verborrágico.
Já não é meu o momento, não é mágico,
Mais um tremelique tragicômico,
Perto demais do cogumelo atômico,
Longe da parede em que fiquei impresso,
Boneco de gesso em propaganda da Esso,
É cedo demais para tirar proveito,
Clamar por carícia e respeito,
Dignidade, misericórdia...
Chamar pelos campos da Arcádia,
E da Felinia na Amacórdia...
Um nome que foi perdido,
Foi esquecido por todos nós.
Ainda assim estará oculto,
Nublando os olhos, embaçando a voz.

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